não

não
cris sousil 29.10.09

eu não gosto dos suspiros dos passos nem dos roncos da madrugada
quando me encontro só entre os cômodos e os incômodos
insonora inodora grande pálida impalpável casa
sem nenhum gato negro esfregando-se contra meu rosto
sem nenhum cãozinho, sonhando sobre o tapete
sem nenhum sonâmbulo teclando do outro lado

eu não gosto e caminho estranha ao próprio ninho,
eu não gosto da falta da fala e do alento,
e sem o sono não sonho, tampouco vejo
e sem a imagem não leio, e tão pouco invento,
estranho as pedras no teto e o piso sem azulejo,
estranho o barro nos pés e a fogueira do abrigo-peito

eu não gosto e não me gozo
feios passos, suspiros, roncos,
eu não gosto caio eu me esbarro
madrugada que não me alcança.